domingo, março 09, 2008

ELAS E AS SUAS MAZELAS

Dr. Jacaré, queira explicar porque é que as mulheres sofrem tanto de enxaquecas, cefaleias, dores menstruais e outras que tais. Serão reais todas essas dores e padecimentos crónicos ou elas gostam é de se vitimizar e ter sempre uma desculpa na manga para se escusar ao sexo?
Céptico Pato Lógico

Justiça divina, caro amigo, é justiça divina. Tudo começou quando Deus criou o Homem a partir da costela da Mulher e se apercebeu de ter feito grande borrada. Mas um filho – ainda que deficiente – é sempre um filho, portanto, Deus amou-o na mesma e tal. Contudo, achou por bem presentear a sua criação superior, a Mulher, com toda uma panóplia exuberante de moléstias crónicas (entre outras coisas). Para equilibrar o jogo entre ela e ele. E dar uma oportunidade ao pobre “Tecla 3” (não sabe o que é ser “Tecla 3”? Leia o que diz na tecla 3 do seu telemóvel... Pooois, é você).

É por essa razão que elas sofrem continuamente de tantas mazelas. Aquilo é tudo real (mesmo quando não é, porque elas fingem com tanta força que até dói). Assim as criou Deus para que nós, homens, beneficiando desse handicap, tivéssemos a possibilidade de jogar ao nível delas. Com a preciosa vantagem de podermos ainda mijar de pé (aqueles que podem, quero eu dizer). Como consequência, e por não estarem habituados, os homens tornam-se uma cambada de caguinchas lamurientos quando afectados pela mais pequena enfermidade (deplorável lote do qual me excluo, pois eu cá, contrariando o caso geral, sou deveras estóico quando estou doente. Sim senhor).

Seja como for, elas também não podem cantar de galo, porque são umas grandes chatas quando se põem a desfiar o rol das suas maleitas. E ele há gajas que parecem retirar disso prazer – e fazem-no desde o primeiro encontro! –, como velhos veteranos de guerra a partilhar as suas histórias pessoais de terror e glória de como perderam certos apêndices corporais no campo de batalha. A quem esperam elas seduzir com conversas destas, é uma incógnita. Porque um homem não quer saber. Por uma simples razão: doença mata tesão! E quando elas se predispõem a discorrer, nos mais íntimos e arrepiantes pormenores, acerca de dores de cabeça, de enjoos, de dores menstruais, de distúrbios urinários, intestinais e estomacais, de celulite, anorexia e demais problemas de peso, de hérnias discais, de cancro, de problemas de dentes, de pele e de cabelo, de malformações genéticas, de pêlos encravados na zona da virilha, de operações cirúrgicas, e de todo um leque interminável de achaques constantes e de diversa ordem, nem um surdo a consegue manter de pé. Precisa de reanimar a pila com choques eléctricos. Como pode um homem sentir atracção por uma mulher que, a avaliar pelas suas próprias palavras, está a cair de podre?...

Deveria aplicar-se aqui a Regra da Eructação/ Ventosidade Reprimida. Todos sabemos que as mulheres, como seres humanos que são, também arrotam e peidam. Mas qualquer mulher inteligente sabe que nunca deve revelar ao homem amado esse lado da sua... humanidade. Porque conspurca a imagem idílica que ele mantém da sua deusa e isso faz mirrar o barrote. Conclusão: elas que se peidem e arrotem, se quiserem – mas sozinhas. Eu não quero ser testemunha. E, de igual modo, não quero saber de doenças. Tudo farei para minorar o sofrimento e o desconforto da minha amada enferma; só não preciso de saber o seu historial médico com direito a detalhes escabrosos das enfermidades em causa. Porque o mal não é sofrer de doenças – é publicitá-las.

Por fim, quanto à questão de elas usarem as dores como desculpa para se escusar ao sexo, caro amigo, confesso que não sei o que isso é. Nunca nenhuma namorada minha me brindou com o clássico “Agora não, querido, tenho uma dor de cabeça.” Pelo contrário, já muitas se revelaram bastante aliviadas de certos padecimentos após o acto sexual. Quer-me parecer que, se acaso elas usam as dores como desculpa, é para se escusar ao mau sexo. No seu lugar, eu punha-me a pau.

sábado, fevereiro 09, 2008

SEDUÇÃO SEM SEGREDOS

Mestre, qual é o segredo da sedução?
Aspirante a Dom-João

Segredo? Caro amigo, a sedução não tem grandes segredos. Pelo contrário, é coisa simples e até perfeitamente lógica. Contudo, tem alguns mitos, que urge desmistificar. E eu cá estou para isso.

Para começar, saiba que a sedução está ao alcance de qualquer idiota. Não é imprescindível ser belo nem rico para ser um grande sedutor (embora isso ajude sempre, claro). Basta apenas uma certa independência financeira (para levar a menina a passear) e uma apresentação minimamente cuidada, e o idiota está lançado. O fundamental é não chocar. Uma pista: você sabe que está a chocar quando as pessoas tapam o nariz à sua aproximação. Portanto, tome banho. Use desodorizante para eliminar esse cheiro a cavalo. Muito importante: escove os dentes e evite o mau hálito. O seu sorriso é o seu cartão de visita. Uma pobre higiene dentária é um repelente certo para as miúdas. Só de imaginar beijar uma boca infecta elas até ficam com náuseas.

A sedução ao nível mais básico aprendi com a minha mãe: foi ela quem me ensinou a ser sempre simpático e educado com as pessoas que me rodeiam. E quanto mais experiência ganho na área das relações interpessoais, mais confirmo como estas qualidades aparentemente banais são de importância fundamental. Em especial para causar uma boa primeira impressão. Ajuntemos a isso a boa disposição e o sentido de humor. Atente no Roberto Benigni, o actor italiano. Haverá homem mais medonho? Ele é escanzelado, careca, tem uma penca enorme. Já vi gafanhotos mais bonitos. Porém, é um tipo inteligente, porque desenvolveu uma arma tão potente quanto a beleza para cativar as pessoas à sua volta – o riso. E pergunto eu: que mulher não se sente encantada pela sua alegria contagiante? Elas deixam-se seduzir pelos homens com quem se sentem bem. E, nesse ponto, aquele que as faz rir leva óbvia vantagem. Ninguém aprecia choramingas pé-de-salsa que passam a vida a carpir a sua pouca sorte. Mas toda a gente adora uma boa gargalhada.

A maior parte das minhas técnicas de sedução aprendi-as com crianças. A trabalhar como monitor em Colónias de Férias. É facílimo cativar (e deixarmo-nos cativar por) uma criança: algumas palhaçadas, um pouco de atenção et voilà – temos um amigo para a vida. Com os adultos passa-se o mesmo, embora estes sejam de longe mais desconfiados e cépticos. Contudo, também só querem atenção. E a atenção demonstra-se pelo interesse. Você não gosta quando uma mulher manifesta curiosidade pela sua pessoa, pelas suas actividades e preferências? Pois bem, o recíproco também é verdadeiro. Por isso, há que demonstrar interesse pela rapariga em causa. Como? Fazendo-lhe todo o tipo de perguntas para a conhecer melhor. Elas adoram falar sobre o seu assunto favorito – elas próprias –, e adoram igualmente aquele que se mostra interessado em ouvi-las. Atentamente. Se, além disso, souber manter uma conversa inteligente, marca mais pontos. Se não souber, não é grave. Fique calmo e cale a boca, mas mostre-se sempre atento e interessado na conversa – quem o vir de fora pensará que você é muito inteligente, só não quer partilhar a sua douta opinião com os presentes. É garantido (quanta gente já não iludi eu deste modo!).

E, aqui está, a sedução não tem muito mais que isto. Insista e persista nestes pontos e qualquer mulher apreciará a sua companhia. Porém, lembre-se: o grande sedutor não é aquele que impõe o seu charme a uma mulher. Pelo contrário, é aquele que sabe despertar o lado sedutor da mulher. Por isso, seja simpático e educado, bem disposto e divertido, atento e interessado, mas nunca, NUNCA, assexuado. Saiba olhar, saiba tocar, saiba elogiar. Quer que uma mulher o veja como homem? Então faça-a sentir-se mulher.

terça-feira, janeiro 15, 2008

SÓ ESTOU BEM ONDE NÃO ESTOU

É inevitável: quando namoro, só me apetece ser livre para me fazer a todas as mulheres que se me atravessam no caminho; mas quando estou sozinho, quero é assentar. Será isto normal?
Indeciso Crónico

Caro amigo, o seu comportamento não só é muito natural, como também muito humano, já que a insatisfação é característica comum a toda a nossa ingrata raça. Sempre que qualquer espécime do género humano tem de optar entre várias alternativas, não pode evitar encarar com uma certa dose de angústia e saudade aquilo que essa escolha o força a abdicar. É fatal – só damos valor às coisas quando as perdemos. No seu caso, o meu amigo oscila entre optar pela segurança emocional inerente a uma relação estável e a disponibilidade amorosa da vida de solteiro. À partida, ambas as opções são inconciliáveis, logo, para beneficiar das vantagens de uma, é necessário renunciar às de outra. Troca por troca.

Por outras palavras, tudo se paga nesta vida. Claro que se pode argumentar que é possível ter a tal relação estável e ir comendo outras gajas por fora. Sem dúvida. Mas há sempre um preço a pagar, caro amigo. Inevitavelmente. Nesse caso, paga-se em tranquilidade de espírito. Porque o sacana que vai comendo gajas por fora da relação assumida é alguém que vive em ansiedade, a olhar por cima do ombro, no terror de ser apanhado com a boca (ou outros apêndices corporais) na botija. E mesmo que as mulheres com quem um gajo se envolve sejam muito modernas, esclarecidas e adeptas de relações abertas, paga-se sempre. Porque quem quer ser livre para amar a todas, no fundo, permanece sempre só, pois não ama nenhuma em particular. Isto para não mencionar o tempo, dinheiro e saúde (física e mental) gastos com todas essas doidas. Porque se uma mulher já suga um homem até ao tutano, imagine várias...

Em suma, qualquer decisão que toma na vida, traz-lhe benefícios por um lado e cobra-lhe um preço pelo outro. Muito bem. E, como qualquer bom consumidor, você procura fazer o melhor negócio. Ou evitar ser (muito) roubado. Mas isto não significa que um tipo se deixe ficar obcecado com os preços. Senão dá em forreta e nunca compra nada. Ou, pior ainda, compra mas fica sempre insatisfeito. Erro. Quando um homem toma uma decisão, qualquer que ela seja, tem de se comportar como um milionário: eu pago de bom grado, posso dar-me a esse luxo, vale a pena. Só assim ele pode apreciar a escolha tomada. Caso contrário, torna-se mesquinho. E não há nada pior que um gajo mesquinho, que não sabe dar valor ao que tem e vai comendo mas desdenhando.

Porque é tudo uma questão de tempo até uma mulher que se sente criticada, depreciada e desvalorizada ir pedir uma segunda opinião a outras partes. E não faltam para aí lambões ansiosos por mostrar a estas mulheres desmerecidas o que elas estão a perder. Eu sou um deles.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

ACREDITAÇÃO (INTER)NACIONAL

Sempre que tenho oportunidade de operar o meu charme sedutor em mulheres estrangeiras e, invariavelmente, elas se mostram imensamente agradadas pelas minhas atenções e as valorizam, elogiando-me como pessoa e como homem, sinto-o como se de uma acreditação internacional se tratasse. É altamente gratificante saber que as minhas capacidades sedutoras (tanto no sentido mais lato como no mais estrito do termo) são autenticadas e certificadas não só no país de origem, mas também internacionalmente. Nos últimos tempos, senti muito fortemente essa realização pessoal tanto no FoIkFaro, como também, agora mais recentemente, com a minha nova amiga Mie. Isto significa que, se algum dia a sedução vier a ser uma modalidade olímpica, eu poderei fazer parte da delegação portuguesa – e vou lá sacar o ouro nas provas de Falinhas Mais Mansas, Cafuné Mais Meigo e Beijinho Mais Doce! Vai ser mimar aquela gente toda sem dó nem piedade!

Todavia, quanto mais experiência cultivo desse vasto mundo além das nossas fronteiras lusitanas, mais chego à conclusão que não tenho grande razão para me sentir tão satisfeito por conquistar raparigas estrangeiras. Pelo contrário, mais motivos tenho de me regozijar com o sucesso que granjeio entre as mulheres portuguesas porque, verdade seja dita, acho o produto nacional bem mais difícil de engan... perdão, engatar. E, de facto, todos os gajos com quem abordo este assunto são da mesma opinião. E garantem-me, de cenho franzido, que as mulheres portuguesas são uma cambada de Marquesas esquisitinhas e orgulhosas, cheias de peneiras e mania que são boas.

Concedo, mas acho a explicação demasiado simplista. Pausa agora para um momento de flashback. Há cerca de dez anos atrás, tive oportunidade de trabalhar como monitor num Campo de Férias internacional durante três semanas, num total de 70 miúdos, dos 13 aos 16 anos, de sete nacionalidades diferentes, incluindo Espanha, França, Itália, Grécia, Polónia, República Checa e, claro, Portugal. Uma boa amostra, portanto. E quem eram os maiores engatatões lá da zona?...

Os italianos? Uns foliões, sem dúvida. Mas ficavam-se pelas palhaçadas, pelo calcio e pouco mais. Os franceses? Ineptos. Os espanhóis? Bairristas, só se davam com o próprio grupo. Os polacos e checos? Adeus!, gajos mais incompetentes nunca vi! Os gregos? Sem dúvida os mais parecidos com os tugas, os gregos eram os únicos que pareciam saber um pouco da poda. Um deles até conseguiu sacar una españolita muy guapita. Mas nada que se comparasse com a maestria dos rapazes portugueses. Eram somente quatro, mas em apenas três semanas, os sacanas trocaram mais vezes de gaja do que de cuecas (e, facto curioso, a cada nova conquista, juravam a pés juntos que essa miúda é que era “a tal”)!

E elas? As francesas, mais vistosas, foram as primeiras a cair – em especial as que tinham bien-aimés lá na terra. Mas, tão depressa como caíram, foram dispensadas. As espanholas, tirando o grego, ninguém mais lhes tocou. As checas ninguém as quis. Mas as outras, aquilo parecia o jogo das cadeiras. As gajas até faziam fila atrás dos portugueses! Curiosamente, o último grupo a levar a razia foi o polaco – que, por sinal, era só beldades (se bem que mais discretas). Mas foi também onde os cães acabaram por se fixar. E eu próprio acabei por sacar uma polaca (mais por acaso do que porfiado) – a acompanhante dos meninos, de seus 22 aninhos –, para grande orgulho dos putos tugas, que ficaram todos inchados por ter sido a equipa da casa a conquistar a maior bomba lá da zona (e, de tão ufanos, até me ofereceram preservativos, tão queridos!). Fim do flashback.

Conclusão: quer-me parecer que, se as mulheres portuguesas são Marquesas, é por calejamento decorrente do insistente assédio deles, enquanto os homens portugueses têm sucesso com as estrangeiras porque se habituaram ao nível mais exigente de sedução das nossas meninas. É uma simpática simbiose. Ganham eles em experiência e elas em qualidade.

terça-feira, novembro 06, 2007

MEDIANO E À BELGA

Após um namoro muito intenso, mas breve, a minha amada decidiu colocar um ponto final na nossa relação alegando que prefere um namoro mais moderado. Ela confessou que esta foi a relação mais estimulante em termos intelectuais, a mais gratificante em termos sexuais e a mais exigente em termos emocionais, mas que não consegue mais lidar com a pressão que daí advém. Diga-me, por favor, mestre Jacaré: EM QUE PLANETA É QUE ISTO FAZ SENTIDO?!
Leitor identificado.

Há coisas na vida real que parecem estranhas demais até para a Quinta Dimensão, caro amigo. E a lógica feminina está, por certo, no topo dessa lista. Porém, antes de atirar a sua sanidade mental às urtigas, convém recordar que o género feminino é, por definição, eternamente insatisfeito e impossível de agradar. Uma mulher há-de sempre ter razões para reclamar acerca do seu amado, de uma forma ou de outra: se ele não telefona é porque é desapegado e não a ama, e se o faz é porque é dependente e controlador; se ele concorda que ela está mais gorda é um bruto insensível, e se discorda é um mentiroso pouco convincente; se ele demonstra insegurança é um fraco, e se mostra autoconfiança é um arrogante convencido. Enfim, no fundo, pouco importa o que um homem faz ou deixa de fazer, porque a realidade é que está fadado a nunca agradar à amada. E, mais cedo ou mais tarde, acaba por pagá-las todas juntas. Com juros. É a nossa sina.

De facto, não serve de nada a um homem ser o amante perfeito. Em boa verdade lhe digo que até é melhor ser o mais abjecto sacana egoísta e sem escrúpulos. Por uma simples razão: porque o sacana, ao menos, faz uma mulher sentir-se superior a ele. O perfeito, pelo contrário, só lhe inflama mais as dúvidas e inseguranças pessoais: ela receia não estar à altura de lhe corresponder devidamente e, em consequência, vir a perdê-lo por não o merecer. E depois é uma questão de tempo até fugir dele, porque a simples presença deste gajo lembra-lhe, por contraste, os seus defeitos e isso fá-la sentir-se mal consigo mesma. Por outro lado, quantas gajas não aturam anos e anos de namoro com sacanas que não valem o ar que respiram? Ah pois é.

Conhece aquele sketch do Gato Fedorento em que dois tipos almoçam juntos e, enquanto um deles pede o melhor bife da casa, o outro pede o segundo melhor bife? O primeiro estranha o capricho do outro e pergunta-lhe se ele não gosta das coisas “à grande e à francesa,” ao que o tipo responde que prefere tudo “mediano e à belga.” E, depois de torcer o nariz a uma gaja toda boa que passa entretanto, entusiasma-se com uma “mais-ou-menos” a quem garante poder proporcionar um “prazer moderado na cama.” A situação é levada ao absurdo, mas não deixa de ter um fundo de verdade. Olhe agora para um caso idêntico, mas de outro prisma. Um grande amigo meu adora fazer escalada. E adora fazer escalada com um grupo de amigos que são autênticos profissionais. Sempre que vai escalar com esta malta, ele é forçado a ultrapassar os seus limites para ascender ao nível dos pros. Não há dúvida que ele adora a sensação de realização pessoal que experimenta nessas ocasiões ao superar-se a si mesmo, contudo, só muito raramente aceita os convites desta gente para escalar. Porque diz que não aguentaria essa pressão continuada.

Em conclusão, qualquer pessoa deseja relações profundas e significativas, mas raros são aqueles que têm unhas para as agarrar, pois exigem grande investimento e muita fibra emocional. O problema das relações intensas, para além da pressão que produzem, é que os momentos maus são tão potentes como os bons e é preciso estaleca para lidar com tudo. E pouca gente se quer incomodar a esse ponto. A malta pretende dos seus relacionamentos o máximo de retribuição pelo mínimo de esforço. E se tiver que sacrificar parte do prazer só para evitar preocupações e chatices, fá-lo de bom grado. Na realidade, a esmagadora maioria das pessoas acaba por acasalar não com o indivíduo mais marcante, mas sim com o menos incomodativo.

quarta-feira, outubro 10, 2007

AMOR INCONDICIONAL

Eu procuro ter uma visão incondicional do amor. É um amor que não cobra, não exige e só quer o bem do outro independentemente de condições. A parte mais difícil acontece quando temos de libertar o outro e deixá-lo seguir o seu caminho, mesmo que não seja ao nosso lado. Deixá-lo partir verdadeiramente, sem rancor, sem ódios, sem mágoas, sem cobranças... transformando um amor passional num amor (fra/e)terno.
Leitora identificada.

E no Pai Natal, minha querida, também acredita? Não raro, fico abismado perante o modo encantador como as mulheres se iludem a si próprias, negando o óbvio e fechando obstinadamente olhos e ouvidos à evidência retumbante, preferindo refugiar-se num mundo onírico e irreal, completamente divorciado de qualquer coerência com a realidade exterior. Amor incondicional?! Que conceito tão extravagante, cara amiga! Se essa sua candura não fosse tão enternecedora, eu ficaria estarrecido perante o absurdo das suas convicções bacocas.

Mas vamos ver se nos entendemos: sabe o que significa, empiricamente, praticar um amor incondicional? Não é só “querer o bem do outro,” como você pensa. Mais que isso, é dar o seu amor. TODO. Sem condições, dúvidas ou restrições. E sem medos. Querer o bem de alguém é fácil, mas oferecer o próprio amor sem pedir nada em troca... isso é outra história. Porque, lamento desiludi-la, mas a realidade é que ninguém dá sem esperar nem que seja um sorriso de prazer da parte de quem recebe. Muito bem, concedo que uma pessoa pode dar uma e duas e três vezes sem receber a mais ínfima retribuição, mas eventualmente desiste porque acaba por acreditar que o outro lado simplesmente não sabe dar valor aos seus gestos de amor. É indispensável dar para receber, concordo. Mas o Amor funciona em ciclo, o que significa que o contrário é igualmente verdade: é indispensável receber para dar (se assim não fosse, não existiriam criancinhas traumatizadas para o resto da vida por falta de atenção dos papás). Todas as pessoas querem ser amadas, mas, de igual modo, todas temem que o amor que têm para dar não seja devidamente valorizado. Portanto, reservam-se, protegem-se, têm medo de se entregar e entregar o seu amor sob pena de sofrer, de ver os seus sentimentos depreciados e rejeitados. Pois para praticar uma visão de amor incondicional, cara amiga, você não pode ter medo de sofrer. Tem de dar, ainda e sempre, apesar de tudo e todos. Mesmo que suspeite que o alvo da sua afeição não saiba dar valor a esse amor. É essa a verdadeira concepção do amor sem condições que de facto não cobra nada.

Se quer saber, minha querida, acho esse tipo de amor abnegado mais provável, não por parte de uma amante, mas de uma mãe. Pois só uma mãe (ou um pai) dá tudo sem reservas pelo seu rebento, mesmo que este seja um drogado, um salafrário da pior espécie, um dejecto humano em definitivo. Na minha opinião, o conceito de amor incondicional está muito mais próximo do amor parental do que do amor passional. Até mesmo essa noção aberrante de “libertar o outro e deixá-lo seguir o seu caminho” tem tudo a ver com o destino final – e fatal – da relação entre pais e filhos.

O amor incondicional é um conceito muito romântico, mas perigosamente ilusório. N’ “O Zahir,” de Paulo Coelho, um homem procura em desespero a esposa desaparecida. Quando finalmente a reencontra, ela diz: “Sim, eu fugi sem qualquer aviso para outro país, desapareci durante anos e vou ter um filho de outro homem. Mas procura compreender. Eu nunca deixei de te amar, és ainda e sempre o amor da minha vida. Mas, se me amas do mesmo modo, liberta-me, para procurar o meu próprio caminho.” Pergunta pertinente: é isto o amor? Sem dúvida que aquilo que ela pede dele é amor incondicional. Mas onde fica a partilha? O que lhe oferece ela em troca? Apenas egoísmo (e um bonito par de cornos). Ora, puta que a pariu! Enfim, não deixa de ser irónico – quem mais prega o amor incondicional é quem não quer apegar-se a nada nem a ninguém.

quarta-feira, setembro 26, 2007

CERTEZAS DE JACARÉ

Não gosto das certezas que o Jacaré tem, ou julga ter, ou quer ter. Para mim, a vida não é feita de certezas, é feita de questões. Todas as respostas (...) são relativas!
Leitora identificada.

Se há coisa que provoca irritação a uma mulher é um homem com certezas, especialmente um homem com certezas no campo amoroso. Muito gostam elas de atroar as fantasias açucaradas e desmioladas de que o Amor é tão grandioso quanto irracional e inexplicável e não pode ser compreendido, calculado e, muito menos, manipulado, pois cada nobre espécimen desse elevado género que é o feminino é único pela originalidade que o caracteriza e diferencia dos demais. Desiluda-se já, homem ignaro, se pensa que, por meio de uma qualquer fórmula obscura e de intenções no mínimo amorais, pode reduzir essa deslumbrante miríade de singulares seres a um mesmo denominador comum, fazendo tábua rasa de todas as características distintivas que fazem de cada uma dessas criaturas uma obra de arte ímpar. Segundo elas, qualquer homem devia remeter-se à ignorância de que até Freud deu provas e não procurar compreender como funciona o género feminino, cujo sublime encanto só é igualado (e mantido) pelo mistério em que está envolto.

Sem querer enveredar pela discussão ociosa acerca dos mistérios do Universo que cabe ou não à raça humana desvendar (pela minha parte, gosto de pensar que TUDO tem uma explicação, desde a Maldição dos Faraós, ao Triângulo das Bermudas, Roswell, Deus e, cá está, o Amor), concordo que um Universo sem segredos, onde o imprevisto não tem lugar, é o princípio do aborrecimento total. O grande mágico, quando revelado, torna-se mero ilusionista. Porém, havemos de nos auto-destruir muito antes de ver desvelados todos os mistérios da existência. Portanto, sem stress.

Posto isto, não me parece que levar uma existência enterrado sob todas as questões e dúvidas que o Universo coloca, evitando comprometer-se seja com o que for porque não existem certezas absolutas sobre nada, seja atitude inteligente para o ser pensante que é o Homem. Nunca teríamos saído do Paleolítico (se calhar, nem teríamos lá chegado!) se os nossos avozinhos macacos (bem mais limitados intelectualmente que nós) não tivessem questionado, formulado, experimentado e concluído as suas concepções acerca do mundo que os rodeava. Porque se determinado fenómeno se produz da mesma maneira mil vezes seguidas, não é o caso em que não acontece que nos impede de criar a regra em que fundamentar as nossas convicções. A excepção não nega a regra. O problema das gajas é que todas e cada uma delas tem a mania que é a tal excepção. Parecem esquecer-se que, antes de serem mulheres, são seres humanos, com tudo aquilo que nos define e caracteriza enquanto espécie. Não há como escapar. E não será uma prova disso o facto de até no quererem ser diferentes elas serem todas iguais? Portanto, porque não criar regras? Ainda que existam excepções, um gajo pode sempre desprezá-las com um encolher de ombros, pois, enquanto não passarem de casos isolados, não invalidam em nada a norma geral.

E o facto é que pouco importam as certezas que cada um tem. O indispensável mesmo é tê-las, pois um gajo precisa delas para tomar decisões. Como pode alguém que só vê dúvidas e questões na vida escolher uma via de acção em detrimento de outra, se não tem certezas sobre nenhuma delas? Atirando moeda ao ar? Muitas vezes, pensar não serve de nada – torna-se imprescindível tomar acção para pôr as coisas a mexer. Porque as acções tomadas, coisa gira, influenciam os acontecimentos subsequentes, de acordo com a posição adoptada. Portanto, se eu acredito que todas as mulheres me desejam e, acima de tudo, ajo como o ser irresistível que sou, o meu comportamento leva-as, no mínimo, a perguntar-se quanto daquilo será verdade. E como têm de me conhecer para o descobrir, logo se mostram disponíveis para tal. Que é exactamente o que eu, à partida, acredito que elas querem. Da certeza à acção. E da acção à reacção. Qual é a dúvida?

terça-feira, agosto 28, 2007

EL CALAMAR Y SUS MUCHACHAS

Depois de dizer adeus aos meus queridos chequinhos no Aeroporto de Lisboa, dou por oficialmente terminada a edição deste ano do FoIkFaro. Durante cerca de uma semana, estive em Faro, Algarve, a trabalhar no Festival Internacional de Danças FoIcIóricas de Faro, evento organizado pelo Grupo FoIcIórico de Faro. Este acontecimento anual (já na sua quinta edição) promove o encontro entre grupos de dança folclórica de diversos países, fomentando o intercâmbio cultural e estimulando a animação nas ruas da capital algarvia (mais informações em www.foIkfaro.com). Durante o evento, integrei o grupo de guias responsável pela recepção e acompanhamento da delegação da República Checa, representada pelo Grupo FoIcIórico DyIeň, de KarIovy Vary.

Ao chegar a Faro de mochila às costas, há pouco mais de uma semana atrás, não conhecia ninguém à excepção do grande Flogger, que foi quem me engajou para o evento. Mas cedo me entrosei na equipa. Graças à minha incansável genica, contagiante boa disposição e cativante charme (fruto de uma experiência de 10 anos como monitor e animador de colónias de férias), rapidamente granjeei enorme simpatia no seio do grupo checo e um pouco mais além. Também as minhas prestações como dançarino não passaram desapercebidas e logo o Pombo me alcunhou de “Calamar,” por ser todo tentáculos, enquanto aviava menina após menina na pista de dança. E com que frequência era interpelado por desconhecidos (especialmente meninas do grupo da Costa Rica) que me tratavam pelo nome e muito me elogiavam como dançarino, pedindo que lhes ensinasse “aquela dança africana, la que tu bailas muy bien” – a kizomba. A fama foi tanta que, na noite de karaoke, houve quem jurasse, ainda antes de me ouvir cantar, que eu era excelente cantor! E o grupo “Calamar y sus Muchachas” animou a festa, enquanto massacrava alegremente melodias pela noite adentro. Como não podia deixar de ser, fui crismado de “gigolo” pelas chequinhas, se bem que todas adorassem a atenção que eu lhes dispensava. E quisessem mais.

Em especial a provocante Punk Queen. Votada entre as hordas masculinas como uma das mais belas – e mais apetecidas – meninas da zona, em toda a pujança da sua fresca idade (e, ainda por cima, com duas boas razões para se gostar dela: a da esquerda e a da direita), era a mim que ela devotava os seus olhares mais intensos. E, apesar de não falar inglês, o seu corpo coleante provou-me pela universal linguagem da dança quão forte era o seu desejo, num fluente reggaeton. Infelizmente para ela, sou um Jacaré comprometido e a minha religião não acredita na infidelidade. Portanto, perante a minha passividade frente à sua disponibilidade, a frustrada rapariga teve que se contentar com caça menor que, diga-se de passagem, não teve qualquer dificuldade em encontrar.

Se me senti tentado? CLARO QUE SIM! Como todos os homens, também eu penso com a pila. Porém, não deixo que seja (apenas) ela a tomar as minhas decisões. Não acredito na desculpa do “aconteceu.” Se as coisas acontecem, é porque alguém permite que aconteçam. O descontrolo é tão-somente o reflexo de uma vontade fraca, que cede aos impulsos animais. E não me lixem com a desculpa de que um homem não pode lutar contra sua natureza biológica de “espalhar a semente”. É claro que pode. Um Homem só prova ser verdadeiramente digno desse nome quando se revela superior aos seus instintos mais básicos. Caso contrário, não passa de um animal.

Eu acredito que no amor vale tudo – desde que todos os envolvidos conheçam e aceitem as regras do jogo. Se um gajo quer andar a saltar de cama em cama sem qualquer compromisso, só tem que o assumir. Há para aí tanta gaja disposta a alinhar nessa onda (e em coisas muito mais esquisitas) que não vale a pena enganar ninguém para ser feliz. Eu gabo-me de nunca ter traído qualquer namorada, independentemente de estar mais ou menos apaixonado. Faço-o por uma questão de princípio, mas essencialmente por preguiça: enganar dá demasiado trabalho. Além disso, adoro falar de alto, sem que ninguém me possa apontar o dedo. Nem sequer eu mesmo.